A Relíquia

A Relíquia é um romance do escritor português Eça de Queirós, publicado em 1887. Uma de suas obras mais irreverentes e mais fantasiosas, "A Relíquia"pode ser lida como uma sátira ao catolicismo em Portugal, ou, mais amplamente, ao conservadorismo, através das memórias do narrador Teodorico Raposo, que, para herdar a fortuna da tia velha e solteirona, vive uma vida dupla: extremamente católico e devoto para a família, mas um ébrio galanteador junto aos amigos. Como prova cabal de sua devoção, Teodorico empreende a longa viagem de Portugal à Terra Santa como representante da tia, num esforço de manutenção das aparências que resulta, segundo o narrador, em aventuras que viriam a modificá-lo para o resto da vida. O livro tem como epígrafe a frase "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia".

By : José Maria de Eça de Queirós (1845 - 1900)

00 - Prefácio



01 - Capítulo 1, parte 1



02 - Capítulo 1, parte 2



03 - Capítulo 1, parte 3



04 - Capítulo 1, parte 4



05 - Capítulo 1, parte 5



06 - Capítulo 1, parte 6



07 - Capítulo 1, parte 7



08 - Capítulo 2, parte 1



09 - Capítulo 2, parte 2



10 - Capítulo 2, parte 3



11 - Capítulo 2, parte 4



12 - Capítulo 2, parte 5



13 - Capítulo 3, parte 1



14 - Capítulo 3, parte 2



15 - Capítulo 3, parte 3



16 - Capítulo 3, parte 4



17 - Capítulo 3, parte 5



18 - Capítulo 3, parte 6



19 - Capítulo 4, parte 1



20 - Capítulo 4, parte 2



21 - Capítulo 4, parte 3



22 - Capítulo 5, parte 1



23 - Capítulo 5, parte 2



24 - Capítulo 5, parte 3



25 - Capítulo 5, parte 4


A Relíquia começa com a apresentação do narrador e protagonista da história, Teodorico Raposo, que busca explicar ao leitor o que o motivou a escrever suas memórias. Ele nos diz que a principal motivação está no facto de que tanto ele como seu cunhado, Crispim, acreditarem que aquelas memórias contém "uma lição lúcida e forte" da vida, sendo merecedoras da imortalidade que só "a literatura propicia". A narração se concentra numa viagem feita por Teodorico ao Egito e à Palestina, logo após uma decepção amorosa. Buscando fugir ao modelo de "guia de viagem", Teodorico nos conta com suposta "sobriedade e sinceridade" os casos que provocaram mudanças significativas em sua vida, principalmente no que tange à herança que supunha merecer.

Na verdade a narrativa de Teodorico possui um outro objetivo, a saber, promover uma correção no livro que seu amigo letrado, Topsius, que participara daquela viagem, escrevera sobre Jerusalém. Naquela obra, intitulada "Jerusalém Passeada e Comentada", Topsius afirmava que Teodorico levava em dois embrulhos de papel os "restos de seus antepassados". Tal afirmação preocupava Teodorico em relação à burguesia local, já que isso poderia acarretar problemas para o futuro e que só por meio da burguesia se tinha acesso às "coisas boas da vida". Teodorico desejava então explicar a natureza e o verdadeiro conteúdo daqueles pacotes.

Teodorico acaba por nos contar não somente o que sucedera na malfadada viagem mas também vários aspectos relativos a sua vida anteriores à viagem, como por exemplo a história do encontro de seus pais, ou ainda, o momento depois de toda a viagem em que se decidira pela escrita de suas experiências de vida.

Teodorico começa por nos falar de seu avô paterno, Rufino da Conceição, padre, teólogo e autor duma obra chamada "Duma Devota Vida de Santa Filomena". Depois apresenta-nos sua avó, Filomena Raposo, doceira, conhecida por "Repolhuda", que vivia em Évora com o filho, Rufino da Assunção Raposo, afilhado de Nossa Senhora da Assunção, pai de Teodorico.

Rufino trabalhava no correio e escrevia, de vez em quando, no periódico "Farol do Alentejo". Em 1853, durante a vista de um importante bispo à Évora (Dom Gaspar de Lorena), Rufino escreveu um artigo laudatório à presença de "tão insigne prelado" e com isso ganho a simpatia do bispo. Simpatia que aumentou ainda mais quando o bispo soube que Rufino era "afilhado carnal" do Padre Rufino da Conceição, seu amigo de estudos quando estudavam ainda no seminário. O Bispo presentou o pai de Teodorico com um relógio de prata e o nomeou "escandalosamente, diretor da alfândega de Viana".

Trabalhando em Viana, o pai de Teodorico conheceu um rico cavalheiro de Lisboa, o comendador G.Godinho, que passava o verão em sua quinta, o Mosteiro, com duas sobrinhas: a devota D.Maria do Patrocínio e a gordinha e trigueira D. Rosa. Rufino da Conceição habituou-se a tocar sua viola para D.Rosa e amor entre os dois não demorou a acontecer. Assim, namoraram e se casaram.

Teodorico então nos conta que ele nasceu numa tarde sexta-feira da paixão e que Dona Rosa, sua mãe, morreu na manhã seguinte, sábado de aleluia. Ficou sendo criado pelo pai, distante do avô materno, o influente comendador G.Godinho e de sua tia, Dona Maria do Patrocínio. O avô materno do menino morreu logo depois de alguns anos e pouco tempo depois, seu pai, de modo que ficou sendo órfão de pai e mãe. Aos sete anos, sua tia, Dona Maria do Patrocínio mandou um empregado, o Sr. Matias, buscar o pequeno Teodorico em Viana.

Pede à tia que lhe financie uma viagem a Paris, mas esta recusa-se terminantemente afirmando que Paris era a cidade do vício e da perdição. Teodorico pede, então, para fazer uma peregrinação à Terra Santa. A tia consente e pede que lhe traga uma recordação.

O sobrinho leviano parte e, na viagem, envolve-se com uma inglesa – Mary – que, como recordação dos momentos que passaram juntos, lhe dá um embrulho com a sua camisa de noite. Chegado à Palestina, Raposo continua a sua vida profana e amoral. Mas, aí, tem um sonho no qual se imagina a assistir a todo o processo de Jesus. Esta é a forma que Eça encontra para negar a verdade da ressurreição. Antes de regressar, Teodorico lembra-se do pedido da tia e corta uns ramos de um arbusto e tece com estes uma coroa, que embrulhou e pôs na sua bagagem. Entretanto, uma pobre mendiga pede-lhe esmola e ele deu-lhe o embrulho que (pensava ele) continha a camisa de Mary. Chegado a Lisboa, relata, hipocritamente, à tia todas as penitências e jejuns que fizera durante a peregrinação e oferece-lhe o embrulho, dizendo que este continha a coroa de espinhos.

A abertura da suposta relíquia faz-se perante uma imensa audiência de sacerdotes e beatas, num ambiente de ansiedade. Qual o espanto de todos quando, em vez do sagrado objecto, surge a camisa de noite da inglesinha. Este insólito episódio vale a Teodorico a expulsão de casa da tia e a perda da fortuna que ambicionava. Para sobreviver, Raposo passa, então, a vender relíquias da Terra Santa, que fabrica em grandes quantidades, acabando por arruinar o negócio. Acaba por compreender a inutilidade da falsidade e da mentira quando tem uma visão de Cristo.

Arranja um emprego, graças a um amigo do colégio e casa com a irmã deste. Parecia regenerado da hipocrisia que o caracterizava, mas ao saber que o padre Negrão – um dos clérigos que costumava frequentar a casa de Dona Patrocínio – herdara desta a Quinta onde ele nascera e que este era amante de Amélia, uma mulher com quem se relacionara em tempos e que o havia traído, Teodorico apercebe-se que tinha perdido a choruda fortuna por não ter sido ainda mais hipócrita e cínico. Se naquele dia tivesse tido a coragem de declarar que aquela camisa pertencia a Santa Maria Madalena, teria ficado bem visto entre os presentes e herdado a fortuna.

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